Eu sei que você não sabe, talvez até nem queira saber. Provavelmente você nem chegou a descobrir a pinta que se esconde atrás das minhas costas e das quatro que formam quase um circulo acima do meu peito. Sei por que não tivemos nada que faça isso se comprometer em uma descoberta, e mesmo se tivéssemos não sei se você realmente iria perceber. Você é desatento. Não percebe as coisas mais simples, coisas que para nós poetas chega a ser vantajoso. O jeito que os pássaros voam quando estão sozinhos e quando estão em grupo, o andar das nuvens, o jeito como um idoso sorri, o olhar de uma mãe, a brisa nas arvores. Para mim isso é a beleza do dia a dia, pra você é só monotonia.
Sei que você nunca percebeu o modo como tentei controlar minha risada enquanto estava com você. Geralmente ela fica sem controle. O jeito que mexo em meu cabelo quando fico nervosa ou ansiosa, como levanto a sobrancelha quando fico desconfiada. Mas você não percebeu né? Como também nunca vai perceber meus gostos e manias. O fato de eu ter de tomar chocolate frio todo dia de manhã por pura vontade e tomar café de tarde por pura preguiça. Não, de fato você não me conhece. Você nunca vai saber que eu já andei de skate ou tive paranoias de perseguição. Que eu já tive amores de desenhos animados que depois se tornaram literários, de qualquer forma, são todos muito surreais. Aliás, você nunca soube que eu já tive um amigo surreal e que já planejei me casar com ele.
Aposto que você riria disso e me chamaria de louca.
Mas loucura de fato foi amar você.